EU NÃO PASSEI NA OAB (E TÁ TUDO BEM)

Diego Ungari
3 min readJun 18, 2020

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Ontem, a convite de um antigo professor, participei da aula de encerramento da Disciplina de Direito Internacional, na Faculdade de Direito da UFMS. Foi uma experiência incrível, que me instigou a revisitar o passado.

Demorei bastante tempo para fazer as pazes com o Direito. Não por culpa da universidade, mas por eu ter transferido para minha formação a insatisfação que tinha em relação as minhas escolhas. Sejamos honestos, escolher uma carreira com 16-17 anos é desumano, a gente mal sabe quem somos nós mesmos com essa idade. Fora o sentimento de que aquela decisão é definitiva, de que vamos entrar naquela carreira e morrer nela. Custei muito a entender que a vida não é tão linear assim.

Aos trancos e barrancos, terminei a faculdade. Então veio a tão temida prova da OAB. A essa altura eu já havia decidido que não iria advogar e que gostaria de seguir por outros caminhos, mas entendia que era uma obrigação fazer (e passar) na OAB. E lá fui eu, comprar livros, fazer cursinho, estudar e reprovar. Dor, sofrimento, vergonha e humilhação. Pedi esse bis 4x. Sim… Quatro exames, quatro reprovações. Isso por muito tempo fez com que eu me sentisse burro, incapaz e me causou muito sofrimento (e eu nem queria continuar na carreira). A superação desse sofrimento foi bastante gradual, mas um ponto chave foi meu ingresso no mestrado em Administração. Inclusive, fiz cada etapa do processo seletivo acreditando que eu não iria passar, mas a esperança é a última que morre não é mesmo?

Na etapa de entrevista, uma professora me disse: Se passar, você vai precisar estudar 3x mais que todo mundo, por não ser da área de Administração. Eu passei, realmente estudei bastante, mas eu percebi que era muito mais prazeroso (e até mais fácil) para mim absorver os conteúdos densos do mestrado, do que conceitos básicos da graduação em Direito. Eu demorei 3 anos para entender a diferença entre Doutrina e Jurisprudência. Nem sei quantas noites eu virei para compreender a teoria tripartida do delito. Em muito menos tempo aprendi as teorias da Administração e os paradigmas epistemológicos aplicados a essa ciência (na verdade, esse aqui ainda estou aperfeiçoando, pois bem difícil mesmo).

Enfim, escrevi tudo isso, principalmente, para dizer que muitas vezes o nosso sistema pode ser cruel. Somos condicionados a nos reduzirmos. A acreditarmos na meritocracia (spoiler: não existe). A nos rebaixarmos por avaliações que não medem inteligência ou esforço. A restringer um milhão de experiências a um único momento, que por si é passageiro. A propósito, não sou a favor de acabarem com o exame da ordem. O problema não é a prova em si, mas como nos condicionam a encarar ela. E isso não acontece só com esse exame.

O ponto é que se você tem como meta seguir um caminho em que algo necessário para continuar nele não deu certo uma vez, insista quantas vezes precisar, ou quantas suportar. Não considere o que não der certo como falta de incapacidade, mas veja o que poderia fazer melhor (isso pode ir desde estudar mais ou até fazer terapia), reajuste a rota e retome o caminho. Mas… Se você está insistindo em algo por uma necessidade que não seja sua ou que traga muito sofrimento, reveja se é isso mesmo o que você quer. No final das contas, cada jornada é única, sempre (ou quase) temos uma escolha e, de uma forma ou de outra, cada um é quem arca com as consequências das suas. Se é assim, hoje acho muito mais saudável arcar com as consequências das escolhas que fazemos por nós mesmos.

No fim das contas, só posso concordar com a frase atribuída ao Einstein: Se você julgar um peixe por sua capacidade de subir em uma árvore, ele (ou ela né) vai gastar toda sua vida acreditando que é estupido.

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