ESTRUTURA DA ORGANIZAÇÃO E A PROMOÇÃO DA DIVERSIDADE

Diego Ungari
3 min readAug 16, 2022

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Como mostra Hatch (2013), a organização é formada essencialmente por sua estrutura física, que representa os aspectos materiais que a constituem, e por uma estrutura social, que diz respeito às relações entre as pessoas, os papéis e responsabilidades que elas assumem dentro da organização. Considerando isso, com o passar do tempo as teorias que abordam a estrutura organizacional sofreram consideráveis mudanças conceituais, indo das visões clássicas, como a burocracia ideal de Weber, às pós-modernas, como as organizações feministas ou a anti-administração.

Nesse contexto, percebe-se que houve também uma mudança na demografia do ambiente organizacional, em especial a partir da década de 1980, que até então era marcada por equipes homogêneas, representadas pelo estigma do homem branco, nativo, heterossexual e não-deficiente (THOMAS, 1990). Pode-se entender que isso decorre fundamentalmente por um isomorfismo normativo, uma vez que a sociedade passou por consideráveis transformações e houve uma crescente evolução de movimentos para garantia de direitos fundamentais de grupos sub-representados, com isso as organizações em geral precisaram se adaptar.

Ainda assim, pela dinâmica do sistema capitalista nota-se que na hierarquia social, reproduzida no ambiente organizacional, existe uma hierarquia econômica, na qual um grupo dominante detém mais poder econômico-político-social e dessa forma assumem maior influência na tomada de decisões em diferentes campos.

Granovetter (2007) contribui significativamente com esse tema, ao destacar a importância da expansão das abordagens de estudos voltados para a economia, incluindo discussões que explorem uma visão sociológica. No cenário aqui apresentado, esse

pensamento é basilar, pois como dito anteriormente a estrutura do sistema no qual estamos inseridos por si segmenta a sociedade em dominantes e dominados.

Esse entendimento é relevante também para justificar que é mais adequado o uso do termo “grupos sub-representados” ao invés de “minorias”, visto que não necessariamente as pessoas do grupo dominado representaram o menor número, mas sim àqueles que possuem menor representatividade e poder decisório.

Por tudo isso, apesar de necessária, a inclusão de grupos sociais sub-representados ao ambiente organizacional passa por um grande desafio: proporcionar que, de fato, essas pessoas sejam incluídas como parte do grupo de trabalho, com condições ambientais favoráveis ao bom desempenho de sua atividade laboral. Dessa forma, o grupo dominante, que é representado pela figura do homem, branco, heterossexual, nativo e não-deficiente (THOMAS, 1990), precisa desconstruir uma série de padrões culturais para proporcionar não apenas a entrada de outros grupos em seu meio, mas a verdadeira inclusão.

Para tanto, é necessário que as estruturas organizacionais sejam analisadas em profundidade, considerando como foram historicamente construídas. Como mostra, Ranson, Hinings e Greenwood (1980) ao trazer a perspectiva bourdieniana de que sugerem uma análise sob um viés estruturalista.

Tanto estes autores como Hatch (2007) chamam a atenção para dinamicidade das estruturas organizacionais, demonstrando que com o decorrer da história a forma de se compreende-las conceitualmente sofreu transformações, muitas das quais em decorrência de mudanças externas. Granovetter (2007) vai somar a essa discussão ressaltando a necessidade de avaliar o fenômeno considerando diferentes perspectivas.

Assim, o que se conclui aqui é que para falar em uma verdadeira inclusão de pessoas pertencentes a grupos sub-representados ao ambiente organizacional, é fundamental a compreensão de suas estruturas sociais, no sentido mais amplo do termo. Pois, inserir pessoas exclusivamente por demandas externas, não significa que elas estejam incluídas de fato. Para isso, corrobora-se o pensamento exposto por Granovetter (2007) de que para analisar na estrutura social das organizações, quem as controla implicitamente, é preciso investigar à nível das relações políticas e considerações gerais sobre a natureza do capitalismo. Incluir está diretamente relacionado a dar poder, dar voz e gerar representatividade em diferentes esferas de estrutura social da organização (e da sociedade), uma vez que quando um grupo dominante não busca entender as necessidades de outros grupos, dificilmente conseguirão de fato inclui los.

REFERÊNCIAS

GRANOVETTER, M. Economic action and social structure: The problem of embeddedness. American journal of sociology, v. 91, n. 3, p. 481–510, 1985.

HATCH, M. J. Organization theory: Modern, symbolic, and postmodern perspectives. Oxford university press, 2013. (Parte II, Cap. 4).

RANSON, S.; HININGS, R.; GREENWOOD, R. The structuring of organizational structures. Administrative Science Quarterly, v. 25, p. 1–17, 1980.

THOMAS, R. J. (1990). From Afirmative Action to Afirming Diversity. Harvard Business Review, 1–21. https://hbr.org/1990/03/from-affirmative-action-to-affirming-diversity

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