A VISÃO MODERNA E PÓS-MODERNA SOBRE NEGÓCIOS DISRUPTIVOS

Diego Ungari
4 min readAug 16, 2022

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Há anos Schumpeter (1934) chama a atenção para a relevância da inovação como geradora de vantagens competitivas. Contudo, há menos tempo passou-se a ser muito utilizado e difundido na academia, nas organizações e na mídia a abordagem que trata da inovação disruptiva. Isto é, aquelas que de algum modo rompem com as estruturas e sistemas consolidados, na busca por mais eficiência e qualidade em produtos e serviços, muitas vezes resultando em novos modelos de negócios (SCHIAVI, BEHR, 2017). Frente a isso, uma mudança aparente é em relação as estruturas físicas das organizações.

Com o passar dos anos, nota-se uma ruptura latente. Muito em função dos avanços da tecnologia computacional, que permitiu reduzir consideravelmente o tamanho de máquinas e equipamentos. O que consequentemente impactou na disposição dos espaços organizacionais.

A primeira vista, é possível deduzir que existe um esforço para se mostrar ares pós-modernos nos negócios que resultaram de algumas destas disrupções, contudo, ao se analisar de forma mais crítica esse cenário, o que se observa é que muitos aspectos modernos não foram abandonados, mas estão maquiados. Portanto, o que se pretende com este paper é defender que existe um conflito entre o que os negócios considerados disruptivos exteriorizam e como funcionam na prática.

Pelo próprio conceito de disrupção, é possível relacionar o termo com um pensamento pós-moderno, diretamente vinculado a noção de desconstrução e de críticas ferramentas ao status quo. Contudo, não é preciso uma análise profunda das teorias pós-modernistas para compreender que a bem da verdade por trás desse tipo de inovação em negócios existe uma estrutura com influências modernistas, ou ainda que não existe, em dado momento da vida organizacional os gestores precisarão recorrer aos modelos mais tradicionais de estruturas.

Como bem destaca Hatch (2013), o fordismo é ainda um dos principais alvos para a desconstrução. Negócios como Google, Uber, Airbnb, Facebook, entre outros que podem ser configurados como disruptivos reiteradamente reforçaram (e reforçam) o quanto seus ambientes organizacionais são inovadores e inversamente proporcionais a negócios com modelos e estruturas mais tradicionais.

A desburocratização é um dos principais argumentos utilizados por esse tipo de empresa, contudo, em dado momento é inevitável que se passe o enrijecimento dos seus processos. Por melhores que sejam as intenções dos gestores, todo negócio está sujeito a inferências externas, tais como as questões legais e, simplesmente, por se considerar isso é possível inferir que burocratizar certos aspectos vai ser necessário (CLEGG, KORNBERGER, PITSIS, 2016).

Outro exemplo, que se evidencia ainda mais na estrutura física das organizações é em relação ao layout. Hatch (2013) chama a atenção para a disposição do Google Campus, cuja amplidão da empresa remete a estrutura de uma universidade. Considerando isso, existe uma famosa máxima que diz que na Google ninguém fica mais de 150 passos de uma refeição. Em contraponto a visão modernista, em que se pesava a mecanização do trabalho, esse tipo de estrutura representa um rompante, mas por outro lado mantém o aspecto de se buscar a maior produtividade ao evitar que um funcionário se distancie de seu posto de trabalho (BRONNER, 2020).

Como sugere Hatch (2013) sob um olhar pós-modernista pode-se dizer que o arranjo espacial das organizações representa as relações de poder, assim sendo, um layout pode servir para dominar e controlar ou reforçar a liberdade e a democracia. A autora ainda desmistifica o pensamento de que esse tipo de negócio necessariamente fomenta a interação entre as pessoas, uma vez que em alguns escritórios considerados abertos, os ocupantes criaram normas proibindo a interferência de outros colegas durante a execução de suas atividades, algumas vezes usando fones de ouvido ou códigos de alerta para informar o desejo de não ser incomodado.

Para finalizar os exemplos, resgatando um ponto que Elsbach e Pratt (2007) trazem em seu texto, os modelos de negócios mais disruptivos são comumente reconhecidos por permitirem que seus funcionários expressem suas identidades de diferentes formas, dentre as quais personalizando o seu espaço de trabalho. Contudo, essa prática não raramente torna-se insustentável, se não forem determinados limites para que isso ocorra. A partir disso, não é raro que esses negócios apelem para o uso de técnicas como o 5S, Six Sigma ou mesmo como aos autores sugerem no texto, do Feng Shui, para harmonizar o ambiente. Uma vez que, como se observa nos textos, há influência dessa estrutura na produtividade e no desempenho das tarefas.

Com tudo isso, entende-se que os negócios considerados disruptivos, apesar de habitualmente mostrarem-se como aqueles que rompem consideravelmente que modelos de negócios mais fechados, ou tradicionais, inevitavelmente precisarão adotar determinadas características que se esforçam em combater, por força das contingências (CLEGG, KORNBERGER, PITSIS, 2016). Assim, ainda que não expressamente, os negócios disruptivos têm um esforço em apresentarem aspectos pós-modernos, criticando severamente outros modelos de negócios, contudo, na prática características modernistas de uma forma ou de outra irão se manifestar em suas estruturas, de forma aparente na estrutura física, mas também nas sociais.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRONNER, S.T. Inverse. Office Evolution: How Google Hacked Food for Happier employees. Publicado em: 20 Mai 2020. Disponível em: https://www.inverse.com/innovation/how-google-hacked-its-health-options-to-encourage-healthy-eating

CLEGG, S; KORNBERGER, M; PITSIS, T. Administração e organizações: uma introdução à teoria e à prática. Bookman Editora, 2016. Cap. 13.

ELSBACH, K. D.; PRATT, M. G. The physical environment in organizations. The Academy of Management Annals, v. 1, n. 1, p. 181–224, 2007.

HATCH, M. J. Organization theory: Modern, symbolic, and postmodern perspectives. Oxford university press, 2013. (Parte II, Cap. 7).

SCHIAVI, G; BEHR, A. Modelos de negócios disruptivos: um estudo bibliométrico da produção científica disponível em bases de dados nacionais e internacionais. CONFIRM 2017 Proceedings, p. 14, 2017. Disponível em: <https://aisel.aisnet.org/confirm2017/19>.

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